quinta-feira, 21 de março de 2013

O ENVOLVIMENTO DOS EUA NA DITADURA BRASILEIRA


Por estar convencida de que o envolvimento de agentes diplomáticos dos Estados Unidos com a ditadura militar (1964-1985) foi mais direto e muito maior do que se imagina e veio a público até agora. A Comissão da Verdade de São Paulo solicitará à Comissão Nacional da Verdade que investigue mais detidamente as denúncias sobre a presença de americanos em interrogatório de presos políticos no país naquele período.

Ex-deputado Ricardo
Zarattini (PT-SP)
A comissão paulista tomou a decisão após ouvir o depoimento do ex-deputado Ricardo Zarattini (PT-SP) em audiência pública. Zaratini lembrou que durante o período em que esteve preso no Recife, em 1968/1969, foi interrogado na sede do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) na presença de dois funcionários do consulado americano em Pernambuco. Um deles era Richard Huntington Melton, depois embaixador dos EUA no Brasil.

Em seu relato à Comissão, Zarattini contou que o interrogatório ocorreu após várias sessões de tortura. “Os dois não me torturaram. Um deles me perguntou: ‘Por que você é contra os Estados Unidos?’ Eu respondi que não era contra os Estados Unidos, mas contra o imperialismo”, detalhou o ex-deputado. "Tem coisas que a gente não esquece os detalhes. Entre as inúmeras violências que sofri durante o período ditatorial, nenhuma me marcou tanto quanto ser interrogado por um agente do governo norte-americano" completou Zaratini.
Um dos presentes ao interrogatório tornou-se embaixador no Brasil

Na época, Zarattini militava no Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), que tentava organizar um movimento de guerrilha rural na zona canavieira pernambucana. Depois do interrogatório ele não viu mais os americanos. Mas identificou um deles em 1989: era Richard Huntington Melton. Naquele ano Melton foi nomeado embaixador e os jornais publicaram fotos dele.

A denúncia de Zaratini provocou polêmica na época e a concessão do chamado agreement (aceitação pelo governo brasileiro) demorou mais que o usual. Zaratini diz que na ocasião, segundo as informações que obteve, o Itamaraty consultou o Ministério da Justiça, que afirmou não haver indicação do envolvimento de Melton com o DOPS.

Além da solicitação à Comissão Nacional, o colegiado paulista vai pedir, também, à Comissão Helder Câmara, de Pernambuco, que investigue com maior profundidade o envolvimento de Melton com a repressão. Zarattini disse que decidiu rever o caso após reportagem do jornal O Estado de S.Paulo publicardaem fevereiro pp. revelar que um agente do consulado americano em São Paulo era frequentador assíduo do DOPS paulista.

O presidente da Comissão da Verdade paulista, deputado Adriano Diogo (PT), adiantou que uma das providências vitais a serem tomadas é obter o livro de registro de entrada e saída de pessoas nas delegacias de repressão política no Recife, no período ditatorial. O colegiado paulista obteve acesso recentemente a documento semelhante referente à circulação de pessoas no DOPS de São Paulo naquele período.

Fonte: Blog de Zé Dirceu

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